segunda-feira, 3 de março de 2008

O Desjejum


Ai que saudade eu estava do beijo do mar. Daquele ar, da areia e do sol espetacular que veio de brinde. Há seis meses eu não sabia o que era isso. Cada solzinho que aparecia, já me imaginava atirada na areia... naquele compasso, água, areia, água e areia de novo. O corpo fervendo do sol e aquele mergulho no mar gelado, que chega a doer o cérebro. Quando você sai, parece que perdeu quilos de energia ruim, que deixou para a maré levar embora... Ai, ai... tudo na praia é maravilhoso. Quer coisa melhor que sair a noite com aquele calorão?? Se atirar num barzinho e só sair quando acabar o fôlego. Com uma rodinha de samba, então?? Uiii delíciaaaaa...
Esse feriadão de 7 de setembro rendeu. Misto de calor, praia, churrasco bem gaudério, boa música, uma turma maravilhosa e tudo o que complementa esse cenário veio junto. Só sei que começamos a função na quinta e só terminamos no domingão. Essa ida à praia me fez lembrar de quando era uma ranhentinha e já veraneava em Noiva, nessa mesma casa. Adorava tanto o mar que a maior tortura era esperar minha mãe passar protetor, antes de cair na água e rolar na areia. Ficava resmungando, enquanto era transformada num fantasminha. Sim, com essa idade a história de “todo dia é um bom dia” ainda não existia na minha vida. Eu era irritada, de pavio muito curto. Acordava num mau humor de doer. Na verdade, preciso confessar, deveria ter consultado um psiquiatra. Eu era uma criança muito estranha, além de feia. Nooossa, e como. Orelhas de abano, magrela e com pouco cabelo. A visão do horror. No verão, então, ficava num bronze mais próximo do cinza, com os cabelos ressecados. Hehe, lembrei agora de um conjunto laranjão (aqueles horrorosos que nossas mães nos obrigavam a usar). Só apareciam meus dentes e essa roupinha linda. Eita, um charme em pessoa. Ainda bem que a gente cresce.
Bom, para variar, fugi do assunto... voltando,.. naquela época, a Dona Lourdes ainda controlava o tempo que ficávamos na beira da praia. Chegávamos cedíssimo e antes do meio dia já estávamos em casa. Até hoje, com menos freqüência é claro, ela tem uma mania engraçada. Acordar cedo e ir até o quarto nos chamar, pois o sol está MA – RA – VI – LHO – SO. Assim mesmo pausado... Maaaa raaaa viiii lhoooo sooo... Não preciso dizer que virou piada, mas que dá saudades dá. Qualquer coisa hoje é motivo de encaixar o adjetivo. Depois que a mãe conseguia tirar as crias da cama, começava a função de arrumar as coisas para levar para praia. Na hora de levar era barbada, a piazada ia animada, mas na hora de ir embora começava outra briga. Ninguém queria voltar de jeito nenhum, sem falar na preguiça que dava de carregar de volta as tralhas que tínhamos levado. Coitado do meu pai. Ele é que tinha que levar a prancha (a de isopor, que arrastava na areia e deixava as pernas assadas... hehe), pazinha, baldinho, além de várias outras coisas muito úteis, e, nos ombros, euzinha. Suja de areia e de protetor e, para variar, resmungando.
A paciência desse meu pai é uma dádiva. E não posso esquecer da mãe. Todos os outros apetrechos ficavam por conta dela. Sem falar de chegar, fazer almoço, enquanto os anjinhos tomavam banho. Isso aconteceu há uns 17 anos mais ou menos. Morro de saudades dessa função. Hoje, meus pais dificilmente vão para beira da praia, eu não tenho mais como ir nos ombros do meu pai, a mãe já não faz tanta questão de avisar que o sol está maravilhoso e acabamos acordando mais tarde. Agora, só vamos para praia no fim de semana, antes íamos em dezembro e só voltávamos no início das aulas. Acabou o brinquedo. O tempo passa rápido demais, mas esse amor pela praia será sempre o mesmo. Não sei surfar, apesar das aventuras com a super prancha de isopor. Tomo banho de mar, mas com receio, pois tenho um pouco de medinho do nosso litoral gaúcho. Confesso que também tenho medo do buracão na camada de ozônio, mas nada disso impede que a água seja uma verdadeira terapia para mim. Todas as coisas boas que já aconteceram na minha vida estão relacionadas à praia. Não tenho como fugir e vou largar a clássica, agora: “Ainda vou morar na praia”...


Setembro de 2007

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